Oscar Pistorius começou nesta segunda-feira a testemunhar em tribunal, na África do Sul, no julgamento em que é acusado da morte da namorada Reeva Steenkamp. Foi um depoimento constantemente emocionado do atleta paralímpico que chorou por várias vezes e que arrancou com um pedido de desculpas aos pais e amigos da modelo sul-africana.
“Acordo todas as manhãs e vocês são as primeiras pessoas em que penso, as primeiras pessoas por que rezo. Não posso imaginar a dor, a mágoa e o vazio que causei à vossa família“, começou por dizer Oscar Pistorius numa curta declaração onde salientou ainda que só estava “a tentar proteger Reeva” e que, “quando ela foi para a cama, naquela noite, sentia-se amada“.
Oscar Pistorius confessou, no depoimento conduzido pelo seu advogado de defesa, que está a tomar comprimidos, nomeadamente para combater a insónia e anti-depressivos para aguentar a dor. “Tenho medo de dormir“, disse em Tribunal o campeão paralímpico sul-africano, relatando que sofre “pesadelos terríveis” e que muitas vezes acorda a sentir “o cheiro do sangue de Reeva“.
Em Tribunal, Oscar Pistorius falou ainda de um acidente de barco que sofreu em 2009 e que alega lhe marcou profundamente a vida, deixando-o com um medo intenso de morrer. “A maior parte do meu rosto tinha ficado esmagada, do nariz para baixo, era quase só tecido muscular e cartilagem“, contou o atleta, notando que levou mais de 100 pontos na cara e que esteve em coma induzido por vários dias.
Este relato vem ao encontro da tese da defesa que pretende mostrar que Oscar Pistorius matou a namorada acidentalmente, pensando que ela era um intruso.
Neste sentido, o atleta mencionou também no seu testemunho o medo que a mãe, que morreu quando ele estava com apenas 15 anos, tinha do crime. “Ela tinha sempre uma arma debaixo da almofada“, disse, constatando os roubos e os incidentes de “carjacking” habituais em Joanesburgo. “Toda a gente na África do Sul já foi exposta ao crime“, sublinhou.
Em lágrimas, Oscar Pistorius assumiu que tem “sofrido muito” nos últimos anos e que a religião é que o tem ajudado a aguentar-se. “Deus é o meu refúgio“, realçou.
Oscar Pistorius falou ainda das dificuldades da infância, nomeadamente por causa da sua deficiência (ele foi amputado das duas pernas quando era apenas um bebé). E notou que sofreu algum tipo de “bullying” na escola por este facto, sublinhando que a mãe nunca quis que ele visse as suas dificuldades como algo que o impedisse de fazer o que quisesse. “Ela não me mimou“, considerou.
O julgamento acabou por ser adiado depois de pedido do advogado de Oscar Pistorius e de este ter desabafado que estava “muito cansado” por não ter quase dormido na noite anterior. A sessão é retomada na terça-feira de manhã.
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