Hannah Arendt chega aos cinemas esta semana. Realizado por Margarethe von Trotta, que também assina o argumento, o filme é um retrato de uma das maiores pensadoras do século XX. O ponto de partida é o julgamento do nazi Adolf Eichmann para chegarmos a uma questão fulcral do pensamento de Hannah Arendt: a banalização do mal.
Depois de assistir ao julgamento de Adolf Eichmann, um dos responsáveis pelas atrocidades do regime nazi, Hannah Arendt, que acompanhava o julgamento para o New Yorker, assina um texto sobre o réu e o holocausto, que provoca uma onda de choque, com inúmeras críticas à pensadora alemã, acusando-a de estar a banalizar os crimes nazis.
Hannah Arendt esperava ver em Adolf Eichmann o monstro nazi, o assassino responsável pela morte de milhares de judeus. Mas o que viu foi um homem que se limitou a cumprir ordens, um burocrata empenhado em fazer cumprir a cadeia de poder. E aqui não há espaço para a reflexão, para questões éticas, o cumprimento da ordem não se compadece com preceitos morais. E Adolf Eichmann cumpria ordens – de forma objectiva, quase mecânica, sem qualquer constrangimento ético que não fosse o cumprir de cada ordem da forma mais eficaz possível.
A pensadora alemã estava perante a banalização do mal, perante a sua desenraização de qualquer reflexão, perante o cumprimento quase técnico do mal. Esta análise do julgamento, publicada pelo New Yorker, foi amplamente criticada, especialmente pela comunidade judaica, que olhou para o texto de Hannah Arendt como uma tentativa de absolvição das monstruosidades do regime nazi.
Hannah Arendt não será um blockbuster, não tem esse apelo massificador, mas será uma boa oportunidade para parar e para reflectir sobre a capacidade dos regimes totalitários de colocarem a máscara da aparente normalidade do fazer cumprir as regras. E isto é assustadoramente actual. Não será um blockbuster, mas devia.
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