As estreias dos novos filmes de Dario Argento, Michel Hazanavicius e Frederico Serra, o Quarto Perdido do MOTELX em livro inédito sobre o terror português, um programa dedicado ao produtor Paulo Branco e ainda “Os Crimes de Diogo Alves” com música de Bernardo Sassetti são algumas das novidades da 16.ª edição do Festival.
Já foram apresentadas as primeiras novidades da 16.ª edição do MOTELX – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa.
De 6 a 12 de Setembro, naquela que é a casa onde o Festival decorre desde a sua primeira edição, o Cinema São Jorge, vai celebrar-se, finalmente, o terror sem restrições. Este ano, o MOTELX faz uma viagem geográfica e temporal pela melhor cinematografia de terror, com um grande destaque à produção nacional e no seu cruzamento com outras expressões artísticas, e alarga-se ainda a mais espaços da cidade, como o Teatro São Luiz, o Convento São Pedro de Alcântara e o Museu de Lisboa – Palácio Pimenta.
Um dos destaques é a estreia nacional de “Final Cut” (França, EUA, Japão, 2022), do realizador francês Michel Hazanavicius (“The Artist”). Entre o terror e a comédia, trata-se de um remake de “One Cut of Dead” (Japão, 2017), protagonizado por Romain Duris e Bérénice Bejo, onde uma equipa em rodagem de um filme low budget sobre zombies é atacada por zombies reais.
Os banhos de sangue continuam durante o Festival, mas elevados a um nível de intensidade gore extra forte, no mais recente giallo do mestre do terror Dario Argento – “Dark Glasses” (Itália, França, 2022) -, que o reúne novamente com a filha Asia e que recupera as marcas autorais do seu legado. Em estreia nacional exclusiva no MOTELX, é o grande regresso do realizador de “Suspiria” às salas de cinema.
Comprometido a mostrar uma vista panorâmica sobre a produção mundial em doses de terror bem servidas, o Festival revelou também algumas das longas-metragens que equilibram a geografia do programa: “Holy Spider”, de Ali Abbasi (França, Alemanha, Suécia, Dinamarca, 2022), “Huesera”, de Michelle Garza Cervera (México, Peru, 2022), “Hunt”, de Lee Jung-jae (Coreia do Sul) ou “Wolfskin”, de Jacques Molitor (Luxemburgo, 2022). À selecção oficial juntam-se os portugueses “Criança Lobo” (2022), de Frederico Serra, um folk horror com estreia mundial na 16.ª edição do MOTELX, sobre uma lenda numa assustadora aldeia portuguesa, e ainda “Os Demónios do Meu Avô” (2022), de Nuno Beato, a primeira longa-metragem de animação stop motion feita em Portugal.
Estas duas películas, em representação do cinema actual em Portugal, fazem a ponte com outro dos momentos altos deste ano: o lançamento do livro “O Quarto Perdido do MOTELX – Os Filmes do Terror Português (1911-2006)”. O registo inédito, com o carimbo do MOTELX, sobre a cinematografia de terror lusitana desconhecida, sublinha a evolução do género no país até um ano antes da primeira edição do Festival que desde então tem vindo a impulsionar a produção por cá. Um manual que faltava e que, como explicam os directores artísticos e programadores do MOTELX, Pedro Souto e João Monteiro, “encerra uma década de pesquisa iniciada em 2009 à procura das raízes de um hipotético terror nacional”.
É nesse seguimento que, na secção Quarto Perdido, se celebra Paulo Branco, o maior produtor de cinema português, com três filmes listados no livro que ainda não foram exibidos no Festival e de que foi responsável: “O Convento” (1995), de Manoel de Oliveira, “O Fascínio” (2003), de José Fonseca e Costa, e “Coisa Ruim” (2006), de Tiago Guedes e Frederico Serra. Obras que “partilham entre si aquela que será porventura a matriz do terror made in Portugal, ou seja um terror proveniente do folclore, o chamado folk horror“. Paulo Branco vai marcar presença no MOTELX para falar das suas experiências enquanto produtor.
Do mesmo naipe do livro, destaca-se o centenário “Os Crimes de Diogo Alves” (1911), de João Tavares – o primeiro filme de terror português com materiais fílmicos e o preferido de Bernardo Sassetti (1970-2012). Em memória do músico, desaparecido há dez anos, e em parceria com a Casa Bernardo Sassetti, o MOTELX apresenta, no Teatro São Luiz, esta película muda com a música do pianista interpretada em tempo real por um combo da Escola Superior de Música de Lisboa, reforçando a vontade do Festival em se alargar a outras propostas artísticas e a mais espaços.
Nesta edição do MOTELX acontece ainda um dia especial FILMar – projecto operacionalizado pela Cinemateca Portuguesa e pelo fundo europeu EEA Grants, que visa restaurar e digitalizar cinema relacionado com o mar -, em torno da temática “Terror e Mar”, com retrospectivas e debates.
De regresso ao Cinema São Jorge, nas Sessões Especiais, estão reservados “A Praga” (Brasil, 2021), uma cópia perdida e recentemente encontrada e restaurada, do “pai” do cinema de terror brasileiro, José Mojica Marins (1936-2020), e “A Última Praga de Mojica” (Brasil, 2021), de Cédric Fanti, Eugênio Puppo, Matheus Sundfeld e Pedro Junqueira, sobre o resgate deste filme inédito, do criador da personagem de culto Zé do Caixão (um agente funerário sádico que aterrorizou os espectadores a partir de 1964 com “À Meia Noite Levarei Sua Alma”).
Quanto às secções competitivas, o recém baptizado Prémio SCML MOTELX – Melhor Curta Portuguesa – o maior prémio monetário para curtas-metragens em Portugal – continua a sua missão de estimular a emergente e cada vez mais presente cinematografia de terror nacional. E traz uma novidade de peso: a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa empresta o seu nome ao prémio, representando um sinal claro de que o apoio ao cinema português de terror não os assusta. A competição mais importante do Festival mostra 12 filmes a concurso, como “Cemitério Vermelho” (2022), de Francisco Lacerda, “Matrioska” (2021), de Joana Correia Pinto, “Quando a Terra Sangra” (2022), de João Morgado, e “Uma Piscina” (2021), de Carolina Aguiar.
Em antecipação de mais uma intensa e aterrorizante edição do MOTELX, o habitual Warm-Up MOTELX SCML aquece os motores, de 1 a 3 de Setembro, com um cartaz imperdível que assinala a rentrée cultural lisboeta. A projecção de “O Fauno das Montanhas” (Portugal, 1926), de Manuel Luís Vieira (1885-1952), com música interpretada ao vivo pela Orquestra Metropolitana de Lisboa (que inicia assim a sua temporada musical), vai encantar o jardim do Museu de Lisboa – Palácio Pimenta – um espectáculo em colaboração com o programa FILMar, em parceria com a Cinemateca Portuguesa, e integrado na programação do Lisboa na Rua/EGEAC. Para comemorar o centenário de “Nosferatu” (Alemanha, 1922), de F.W. Murnau (1888-1931), o MOTELX oferece também uma experiência sonora e visual imersiva em torno do imaginário do filme, no Convento São Pedro de Alcântara. E, no Largo Trindade Coelho, a sessão de cinema ao ar livre, este ano com o filme “What We Do in the Shadows” (Nova Zelândia, 2014), de Jemaine Clement e Taika Waititi, cumpre a tradição no aquecimento do Festival.
De 6 a 12 de Setembro, o terror invade a cidade de Lisboa. Bem-vindos à 16.ª edição do MOTELX!
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