SEMPRE de Luciana Fina foi selecionado para a 81ª edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza, na secção Giornate degli Autori que vai decorrer de 28 de Agosto a 7 de Setembro. A selecção da estreia mundial de SEMPRE num dos mais prestigiados festivais de cinema do mundo foi anunciada hoje pela sua directora artística Gaia Furrer.
Para a cineasta é “no plano da arte combinatória da montagem, entendida aqui como uma maneira de produzir sentido através da combinação de elementos e tempos heterogéneos, que procuro a tensão de um cinema reflexivo e simultaneamente generativo, para que se abra o encontro entre o Outrora e o Agora”.
SEMPRE é construído a partir dos arquivos cinematográficos da Cinemateca Portuguesa que convidou Luciana Fina para conceber uma instalação por ocasião da celebração dos 50 anos do 25 de Abril.
“Com o 25 de Abril, muitos realizadores e documentaristas entram em campo para observar e participar na mudança do país. Nos ecrãs do cinema e da televisão começa a revelar-se tudo aquilo que vivia na constrição da invisibilidade e da censura. A interlocução com a população, as suas vidas, as culturas rurais e operárias assumem um papel central e formas diversas, com filmes que encontram a sua expressão entre um cinema de poesia, o cinema-directo, de intervenção ou de inspiração neorrealista. No processo de construção da nova sociedade, com o espírito colaborativo das cooperativas de produção, ou ainda individualmente, torna-se imperativo intrometer-se na história, documentar, mas sobretudo pensar e formular ideias para a emancipação no campo da educação, da arte e da cultura, o trabalho, a emancipação da mulher, a descolonização, a reforma agrária, a habitação, o próprio cinema e os média.
O filme conduz-nos através da asfixia do salazarismo e da PIDE, as ocupações estudantis de 69, o Movimento das Forças Armadas de 74, os sonhos, os programas e as perspectivas do PREC, o Verão Quente, a descolonização e, sobretudo, repropõe os gestos de grandes cineastas que entraram em acção juntamente com artistas, compositores e directores de rádio. Nesses anos de transição, de construção do futuro, o cinema português vivia também um capítulo crucial da sua história. Sons inerentes ao momento histórico actual, às manifestações pelo direito à habitação, ao trabalho digno e à cultura, à questão colonial e à questão da mulher, inscrevem-se por entre as imagens do passada”.
Sinopse
“No fundo era interessante que daqui a um ano a gente estivesse aqui a dizer que o que foi importante em 74 foi o cinema português”. Numa entrevista para o programa televisivo Cinema 74, em Janeiro, Fernando Lopes idealizava o futuro do cinema português prefigurando também a realidade que poucos meses depois viria a concretizar-se. Com o 25 de Abril torna-se imperativo intrometer-se na História, documentar, mas sobretudo pensar e formular ideias para a emancipação e a construção de uma nova sociedade. Decorridos 50 anos da Revolução dos Cravos e da entrevista de Fernando Lopes, é graças ao cinema, ao olhar e à poética dos cineastas, dos radialistas e dos realizadores de programas para a televisão, que podemos entrar na trama dos sonhos e das perspectivas da revolução que libertou o país do fascismo.
Sons inerentes ao momento histórico actual, manifestações pelo direito à habitação, ao trabalho digno e à cultura, a questão da mulher e a questão colonial, surgem por entre as imagens do passado. Resgatar as imagens destes arquivos é também interrogar o cinema, os seus gestos e uma ideia de futuro. As imagens e os sonhos desse tempo reclamam a nossa presença.
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