FEST 2025 – Cinema que pensa o mundo — entre o íntimo e o político, entre o riso e a resistência

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Festival decorre de 21 a 29 de junho em Espinho

Arranca este sábado a edição 2025 do FEST – Festival Novo Cinema, Novos Realizadores com o regresso de Scandar Copti a Espinho a propósito da estreia nacional da sua nova longa-metragem Happy Holidays. Vencedora do prémio de melhor argumento em Veneza e de mais seis distinções internacionais, a obra do realizador palestiniano é um olhar íntimo e humanista sobre uma família árabe residente em Israel. Através de temas como o aborto, a crise financeira, a saúde mental e os segredos familiares, Copti constrói um testemunho urgente sobre a complexidade da vida em contexto de conflito. O realizador estará presente para apresentar o filme e orientar uma masterclass e um workshop.

A competição Lince de Ouro traz um conjunto de longas onde o humor e a crítica social são motores de resistência. Um dos destaques é Mad Bills To Pay (Or Destiny, dile que no soy malo), estreia de Joel Alfonso Vargas e vencedor do prémio especial do júri em Sundance — uma comédia dramática sobre a vida de uma família dominicana em Nova Iorque. Em Peacock, o austríaco Bernhard Wenger regressa com um retrato sarcástico sobre as máscaras sociais, combinando sátira e crítica relacional. Manas, da realizadora luso-brasileira Marianna Brennand, explora a violência de género numa comunidade amazónica com coragem e sensibilidade. Já Cactus Pears, estreia de Rohan Kanawade, traz uma história de amor LGBTQIA+ na Índia, confirmando a vitalidade do cinema indiano atual.

Com um olhar atento ao presente, o FEST 2025 reforça a sua programação internacional de longas com títulos que abordam os dilemas morais, políticos e sociais do nosso tempo. Entre os retratos do íntimo e do coletivo, Spring Came On Laughing, de Noha Adel, revela as vidas escondidas de mulheres egípcias numa narrativa interligada e emotiva. Lessons Learned, do húngaro Bálint Szimler, é uma alegoria crítica ao sistema educativo e à opressão política, protagonizada por uma jovem professora e um estudante. Já The Good Sister, de Sarah Miro Fischer, confronta a violência de género e os dilemas familiares com coragem e crueza.

A guerra e as suas consequências marcam também a programação da competição. Songs of Slow Burning Earth, de Olha Zhurba, regista em tom sensorial os dois anos da invasão russa à Ucrânia, com o olhar de uma geração que insiste em imaginar o futuro. To Close Your Eyes And See Fire, de Nicola von Leffern & Jakob Carl Sauer, mergulha no rescaldo da explosão no porto de Beirute através de múltiplas personagens e sensibilidades artísticas. Da Dinamarca, A Place in the Sun, de Mette Carla Albrechtsen, oferece uma crítica melancólica sobre o impacto do turismo e a desumanização dos destinos de férias.

Na produção portuguesa, C’est pas la vie en rose, de Leonor Bettencourt Loureiro, encerra o festival. A realizadora regressa a Espinho com uma obra que observa a Lisboa contemporânea e as tensões da gentrificação através da história de uma dupla de músicos estrangeiros que decide viver na capital.

O Grande Prémio Nacional, com quatro programas e 23 curtas-metragens, dá palco a novos autores e a temas como a crise da habitação. Destacam-se a comédia Agente Imobiliário Sem Casa Para Viver, de Filipe Amorim, o documentário Business as Usual, de Pedro Vinícius, e Fragmented, de Balolas Carvalho e Tanya Mara, com nova referência à Palestina. No campo da ficção, surgem obras como Arriba Beach, de Nishchaya Gera — um thriller erótico com Inês Herédia — e O Tempo das Cerejas, de Clara Frazão Parente, sobre o corpo e a experiência feminina. A competição inclui ainda novos filmes de Welket Bungué, Henrique Prudêncio, José Freitas e do estreante Luís Filipe Borges.

A secção Lince de Prata apresenta uma seleção internacional de curtas inovadoras e provocadoras. Entre os destaques está My Mother is a Cow, de Moara Passoni (Brasil), um conto de realismo mágico que teve estreia em Veneza; Inflatable Bear, Hourly, de Elisabeth Werchosin (Alemanha), uma abordagem surreal às dificuldades laborais de uma imigrante em Berlim; e Karmash, de Aleem Bukhari (Paquistão), um thriller com raízes tradicionais e linguagem de género, exibido na Quinzena dos Realizadores em Cannes. Outros títulos a destacar incluem Wassupkaylle, uma sátira ao universo dos influencers e à busca desesperada por atenção; Lux Carne, de Gabriel Grosclaude (Suíça), que imagina um futuro distópico em que matar os animais que consumimos se torna lei; e The Age Of The Flowing Plants, de Magali Ugarte de Pablo (México), uma fantasia de auto-descoberta feminina.

Este ano, o cinema como espaço de resistência política surge também no foco dedicado à Geórgia na secção Be Kind Rewind. Num momento em que o país vive uma forte mobilização contra ameaças à sua soberania democrática, o festival apresenta um programa de curtas e longas-metragens de autores como Rusudan Glurijdze, Elene Mikaberidze e Tornike Koplatadze — uma nova geração que se tem destacado pela ousadia formal e pelo compromisso com o presente.

O programa de masterclasses do FEST 2025 reúne uma seleção notável de profissionais do cinema internacional e nacional, com sessões distribuídas entre 23 e 28 de junho. Scandar Copti, Martin Percy, Filipe Carvalho, Gonçalo Galvão Teles, Guillermo Garcia-Ramos, Edison Alcaide, Nick Page, Chris King, John Cameron, Jens Petersen, Paul Davies, Kaveh Farnam, Philippe Rousselot, Katie Byron e Brillante Mendoza são alguns dos nomes em destaque, oferecendo perspetivas valiosas sobre realização, produção, direção de arte, montagem, som, música e indústria cinematográfica.

Com uma programação ampla e diversa, o FEST 2025 posiciona-se como um palco de interrogação e imaginação, onde o cinema serve de espelho e motor de transformação. Entre histórias de resistência, lutas sociais e visões do futuro, o festival continua a ser um espaço onde o olhar crítico e poético encontra o mundo.

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