Médico pessoal de Maradona investigado por suspeitas de homicídio culposo

0

Leopoldo Luque responde por negligência na investigação à morte de El Pibe.

O médico pessoal de Maradona, Leopoldo Luque, está a ser investigado pela justiça argentina por “homicídio culposo” no âmbito do inquérito aberto para averiguar as circunstâncias da morte do antigo futebolista.

El Pibe terá sofrido uma paragem cardio-respiratória que lhe foi fatal, mas ainda não são conhecidos os resultados da autópsia, para conferir a causa da morte.

As autoridades argentina estão a investigar as circunstâncias do falecimento e depois de ouvirem as três filhas do astro argentino, Dalma, Gianinna e Jana, acusaram o médico Leopoldo Luque de “homicídio culposo”.

Estamos perante o que em Portugal, é definido como homicídio involuntário ou por negligência.

As filhas de Maradona terão acusado o médico que o acompanhou mais de perto, nos últimos tempos, de ser o principal responsável pela morte do pai, devido a alegados descuidos no acompanhamento, conforme refere a imprensa argentina.

“Amava Diego como a um pai”

Foram feitas buscas à casa de Luque, bem como à sua clínica.

Foi precisamente na clínica do neurocirurgião que Maradona foi operado a um hematoma no cérebro alguns dias antes de morrer.

Sei o que fiz com o Diego, pelo Diego. Tenho tudo para mostrar. Fiz o melhor com Diego, morreu o meu amigo”, assegura Luque numa conferência de imprensa realizada depois de ter sido acusado.

“Amava Diego como a um pai”, garante ainda o médico emocionado, chegando até a verter uma lágrima ou outra e frisando que era difícil controlar o astro do futebol. “Consegui com Diego o que ninguém conseguia”, aponta ainda.

“Eu era um fanático de Diego. Amava-o. Fiz o que devia fazer, e mais ainda”, diz também, considerando que as acusações contra si são “tonterias” e “coisas estúpidas que lesam a memória de Diego”, mas colocando-se “à disposição da Justiça”.

Os investigadores terão apreendido vários documentos a Luque, além de computadores e telefones.

Forte discussão entre Maradona e o médico

A imprensa argentina noticia que alguns dias antes da sua morte, Maradona terá tido uma forte discussão com o médico, de acordo com duas testemunhas ouvidas no inquérito, designadamente um enfermeiro que acompanhava El Pibe e a cozinheira que ele considerava uma segunda mãe e que lhe preparava as refeições há vários anos.

O ex-futebolista terá chegado a empurrar Luque, além de o ter insultado, de acordo com os relatos.

A discussão terá ocorrido no passado dia 19 de Novembro e terá sido a última visita do médico à casa de Maradona antes da sua morte que aconteceu a 25 de Novembro.

A cozinheira terá dito aos investigadores que seria habitual Maradona insultar os médicos e enfermeiros porque não queria que o vigiassem.

Amigo de Maradona acusa os mais próximos de o embebedarem

Um amigo de Maradona revelou, entretanto, a uma rádio argentina, que as pessoas que rodeavam Maradona, nesta fase da vida, o embebedavam para que não recebesse as visitas das filhas Dalma e Gianinna.

Mariano Israelit que conhecia Maradona desde a infância acusa, em concreto, um homem chamado Charly, explicando que é “o marido de uma prima de Rocío (Oliva)”, a ex-namorada de El Pibe, acusando-o de lhe dar cervejas até ele começar “a balbuciar” e estar sem condições de receber as filhas.

Médico diz que se fez “o melhor para controlar pastilhas e álcool”

Após as acusações no inquérito de investigação à morte de Maradona, o médico que o acompanhou desdobrou-se em declarações a vários meios de comunicação social, para garantir que seguiu todos os preceitos médicos e que além de outros clínicos, incluindo psiquiatra e psicólogo, também a família terão acompanhado as decisões tomadas.

Luque nota que a sua função particular era “conseguir fazer entender algo a Diego, conseguir o mais difícil, a vontade de Diego“.

Fica, de seguida, o resumo das declarações do médico…

“Diego era difícil”

“Estou muito mal porque morreu o meu amigo. Estive no seu enterro, no velório, porque ele o queria assim. Vi muita gente que nunca tinha visto. E depois que se diga que não estive com ele, não posso acreditar.”

Diego odiava os médicos. Odiava os psicólogos, odiava toda a gente no que toca à saúde. Comigo era diferente porque eu era genuíno, não procurava nada nele. Nem sequer uma foto buscava. Diego precisava de ajuda, não havia forma de o convencer. Diego tinha autonomia, ele decidia sobre a sua saúde. Diego não é maluco. É uma pessoa que podia decidir a todo o momento.”

“Diego era difícil, expulsou-me um monte de vezes da sua casa. E depois chamava-me. O que fazia era levá-lo a um médico, um gastrenterólogo, um oftalmologista, acompanhava-o até ao dentista. Porque se não estivesse ao seu lado, nem um dente se lhe arrancava.”

“Diego é um paciente de descarga. Tudo o que se conseguiu, pôr-lhe uma enfermeira, isto e aquilo, era de mais. E precisávamos do consentimento de Diego. Ele podia expulsar toda a gente como fez. A alta neurocirúrgica, ele teve-a. Tinha a alta da clínica. [O resto] foram recomendações a que o paciente tem de estar disposto. Não posso forçar um paciente a entrar num manicómio. Não posso dizer-lhe para o levarem para um centro de reabilitação.”

“Não se podia levá-lo a um neuro-psiquiatra porque não havia critério médico. Então, um centro de reabilitação requeria a vontade de Diego que era impossível. Então, que podemos fazer, façamos isto ou outra coisa. Mas Diego fazia assim e desarticulava tudo!”

“Sei o que fiz, como o fiz, que é do que posso falar. O que fiz com Diego e pelo Diego, até ao último momento, tenho tudo para mostrar. Fiz o melhor que se podia com Diego.”

“A sua morte não teve nada a ver” com a operação ao cérebro

“Na quinta-feira, fui vê-lo e passou-se o que se passava sempre com Diego. Quando estava mal, expulsava toda a gente. E que se faz com isso? Alguém que me diga o que se faz. Eu era o único que podia estar ali dentro. Porquê? Porque sabia quem sou. Entrei e expulsou-me: ‘Luque, deixa-me em paz, estou bem’. Disse-lhe, ‘vá Diego, mais um esforço, vamos em frente’. Tudo o que fiz foi de mais, nada de menos. Pedia-lhe que se levantasse, que recebesse as filhas e não queria.”

“Não há decisões, há critérios médicos. Operas um paciente, às 24, 48 ou 72 horas, depende do paciente, está com critério de alta. Não houve um erro médico, mas da parte de ninguém. Não é um erro médico, nem sequer da enfermeira, foi um evento fortuito, um ataque cardíaco de um paciente com as características dele é o mais comum que morra assim, lamentavelmente, é algo que podia acontecer. Como podia ter acontecido antes.”

“Tenho todo o aval da Associação Argentina de Neurocirugia, chamaram-me para o caso, avaliamo-lo com 6 neurocirurgiões, é uma tonteria… Queria ver-vos a vós, Diego morto com um hematoma na cabeça, era preciso resolver isso, era um hematoma de 12 milímetros com mais de 6 milímetros de deslocamento, é cirúrgico. Não posso deixar o paciente assim. A sua morte não teve nada a ver com isso.”

Luque chamou ambulância sem dizer que era para Maradona

Na conferência de imprensa, o médico também falou sobre a chamada para as urgências que terá feito, apesar de não estar com Maradona no momento em que ele sofreu a paragem cardio-respiratória que motivou a sua morte.

Ele explica que lhe telefonaram a dar conta da situação com Maradona quando estava a meio de uma operação e que logo telefonou ao 112.

Os media argentinos revelam um áudio dessa chamada, onde Luque pede uma ambulância “com urgência” para o bairro onde morava Maradona, mas sem nunca mencionar que a pessoa a precisar de socorro era El Pibe.

Luque falou, nos termos que se seguem, do momento e de como tudo ocorreu…

“Têm que entender quem eu era para Maradona, quem chamou a Luque, é automático, não é porque seja o médico de cabeceira encarregado. O que fazia era facilitar a Diego a possibilidade de aceder a um médico. Recebo a chamada: ‘Diego está mal. Não reage’, desligo e ponho-me a pensar no que está a acontecer, chamo uma ambulância e digo que está em paragem.”

Não importa quem me ligou, uma pessoa que o quer muito, como eu. Desligo e ponho-me a pensar se pode ser verdade que esteja em paragem. Mudo-me a meio da cirurgia, digo ao meu sócio que vou embora porque parece que o Diego está mal, chamo o chefe de ambulâncias da Swiss Medical e digo-lhe ‘manda um helicóptero à casa de Diego que parece que há algo sério’. Essa foi a chamada. Não sou o responsável por um internamento, era um apoio que Diego permitia ou não.”

“O grande problema” eram “as pastilhas e o álcool”

Na conferência de imprensa, Luque falou também, conforme se transcreve a seguir, dos tratamentos e da forma como foram abordados os problemas de saúde de Maradona…

“Todos estivemos de acordo em tentar ajudar Diego. A família, Swiss Medical, a psiquiatra, o psicólogo, eu e mais outros que queriam ajudar. Vamos tentar o melhor possível para controlar as pastilhas e que não haja álcool. Não era para controlar que Diego não tivesse um evento coronário. O que procurávamos era reunir a melhor forma possível para que isso, que era o grande problema, melhorasse.”

“Todos fizemos o melhor que se pôde. Todos. Estou agradecido à Swiss Medical, às enfermeiras, à segurança dele que me telefonava de cada vez que o viam mal, ao suposto entorno, os mais próximos tinham que fazer equilibrismo com um tipo que às vezes… Pergunto-me se não sabiam quem era Maradona ou só eu sei o que era Maradona?

//SV

Artigos Relacionados

Sê o(a) primeiro(a) a comentar

Veja também