No passado dia 26 de junho realizou-se a 8.ª Conferência Internacional do Center for Education and Development of Homeopathy (CEDH). Marcada para Miami, este ano ocorreu exclusivamente online, em virtude da pandemia da COVID-19, e foi subordinada ao tema da Homeopatia na Gestão da Dor.
O tema definido pela organização (CEDH USA) está enquadrado numa outra epidemia global – a da dor crónica – e é altamente pertinente para os norte-americanos que atravessam uma “crise de opióides”.
A dor crónica afeta a nível mundial 1,9 mil milhões de pessoas. Dados estatísticos da Europa apontam para uma prevalência de 20% da população: são mais doentes do que se somarmos os doentes com diabetes, cancro e com problemas cardiovasculares.
Os custos de tratamento fazem com que se olhe atentamente para esta questão de saúde pública, porque a somar há ainda os custos de perda de produtividade, a abstinência, etc.
Frequentemente, a dor crónica assume a forma de uma dor lombar, uma enxaqueca ou dor de pescoço e menos habitualmente uma dor facial – mas é uma dor que evoluiu de uma dor aguda. Em qualquer um dos casos, uma dor que perdura durante um período superior a 3 meses pode classificar-se como uma dor crónica: já foi ultrapassado o tempo no qual teria desaparecido a dor aguda e ocorrido a cura. O facto de a cura não ter acontecido, acarreta uma componente emocional indissociável, impactada pelas crenças acerca do seu próprio processo de cura. É uma doença incapacitante durante longos períodos de tempo, com maior prevalência na faixa etária entre os 45-65 anos, em que 77% dos casos diagnosticados estão acompanhados por depressão e muitos relacionados com suicídio.
Um dos modelos utilizados para ilustrar o cariz global da epidemia é o que se inicia no FISICO – onde dói – que acaba por ficar envolvido no esquema de pensamento MENTAL – quando é que a dor vai embora? – que arrasta o EMOCIONAL – vai ser permanente? – e o ESPIRITUAL – porque me acontece a mim? – passando a envolver o SOCIAL – porque impacta diretamente a família através do rendimento monetário do agregado. Todos estes níveis são afetados ciclicamente (amplificando a dor) pela insónia e pela ansiedade, por exemplo, tendo impacto na qualidade de vida, na família e ultimamente na economia.
A dependência de opióides é uma preocupação de saúde pública nos EUA (mas também noutras partes do mundo) há já alguns anos: no final dos anos 90, as empresas farmacêuticas asseguraram à comunidade médica que os doentes não se tornariam viciados em analgésicos opióides e a sua prescrição aumentou: a dor estaria a ser subvalorizada no tratamento – foi implementada uma escala visual para o diagnóstico e passou a ser considerada o quinto sinal vital. O grande problema é que o diagnóstico não poderia ser fiável – a dor é subjetiva.
O aumento da prescrição de medicamentos opióides levou ao seu uso indevido generalizado, antes de ficar claro que esses medicamentos poderiam ser altamente viciantes. O número de mortes por overdoses de opióides subiu em flecha.
É neste cenário, em que simultaneamente vivemos numa epidemia de dor crónica e numa crise de opióides, que a Homeopatia assume um papel relevante na gestão da dor.
Utilizam-se medicamentos homeopáticos para reduzir os efeitos secundários dos analgésicos que surgem nos sistemas hepático, digestivo, hematológico, neurológico e psicológico.
Utilizam-se medicamentos homeopáticos com eficácia na gestão da dor em doentes com contraindicações: mulheres grávidas, mulheres a amamentar, crianças e idosos e em doentes com comportamentos aditivos para retirar os opióides em todas as quatro fases do tratamento;
- na primeira fase de abstinência em que surgem medos exagerados, febre, delírio;
- na segunda fase de destoxificação em que surgem distúrbios gastrointestinais, distúrbios do sono, mialgias, artralgias;
- na terceira fase onde se procura restaurar a personalidade natural;
- e na quarta e última fase, onde se procura diminuir o risco de sucumbir à tentação, mas em que é necessário viver.
As vantagens da Homeopatia que sobressaem na gestão da dor:
- os medicamentos homeopáticos não causam dependência ou síndrome de abstinência;
- o doente vai tomando cada vez menos medicamentos no decorrer do tratamento;
- não se conhecem interações de medicamentos homeopáticos com outros medicamentos;
- uma vez efetuada a avaliação do tipo sensível do doente, os medicamentos homeopáticos contribuem para a melhoria dos aspetos comportamentais;
- os medicamentos homeopáticos não são dispendiosos em comparação com as alternativas.
Os clínicos que já utilizam Homeopatia têm ao seu dispor um arsenal de medicamentos que estão disponíveis segundo a estratégia do tratamento, seja ela segundo a etiologia; aplicada a determinados órgãos ou tecidos alvos do tratamento ou relacionada com as características comportamentais.
O mais importante é que o tratamento seja escolhido à medida do doente – personalized medical care – como Sir William Osler disse “o bom clínico trata a doença que o doente tem, o excelente clínico trata o doente que tem a doença”.
Artigo assinado por Dr. Nuno Negrão Martins,
Farmacêutico
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