Doente que sofreu enfarte tratado com implante com células estaminais

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Doente que sofreu enfarte do miocárdio tratado com um implante contendo células estaminais

Um homem de 63 anos de idade com histórico de enfarte do miocárdio foi recentemente tratado com sucesso utilizando um novo produto de terapia celular designado PeriCord, que contém, como ingrediente ativo, células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical.

O doente tinha sofrido o enfarte na zona inferior do miocárdio em 2004 e em março de 2019 a sua situação agravou-se, tendo os exames revelado doença coronária com indicação para revascularização do miocárdio através de bypass coronário. Durante a cirurgia, adicionalmente ao procedimento convencional de revascularização, foi aplicado PeriCord na zona de enfarte já cicatrizada.

No período de recuperação pós-cirúrgico não se observaram efeitos adversos relacionados com a aplicação do produto experimental e, nos três meses seguintes, o doente continuava sem necessidade de qualquer hospitalização. Para além destes resultados, que sugerem que o procedimento é seguro, o estudo por ressonância magnética, três meses após o procedimento, revelou uma diminuição de aproximadamente 9% no tamanho da cicatriz no miocárdio, relativamente ao tamanho inicial, o que sugere uma ação favorável do produto aplicado.

Segundo Bruna Moreira, Investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal, “apesar de promissores, estes resultados são, ainda, preliminares. É necessário aguardar pela conclusão deste estudo e de ensaios clínicos adicionais num maior número de doentes para se poder concluir acerca da segurança e eficácia desta abordagem”.

O novo produto está a ser testado no âmbito do ensaio clínico PERISCOPE, que se encontra, atualmente, a decorrer em Espanha, e tem como objetivo avaliar a segurança do tratamento de doentes que sofreram enfarte do miocárdio utilizando este produto de terapia celular. Este contém, como ingrediente ativo, células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical, colocadas numa matriz de pericárdio (membrana exterior do coração), à qual foram previamente removidas todas as células, e que funciona como material de suporte para implantação cirúrgica.

Este ensaio clínico de fase I pretende recrutar 12 doentes com cicatrizes cardíacas não revascularizáveis, que sejam candidatos para revascularização cirúrgica de outras zonas do miocárdio. Adicionalmente ao procedimento convencional de bypass coronário para revascularização miocárdica, o novo produto será também aplicado na zona não-revascularizável. O principal objetivo é avaliar a segurança do tratamento, no entanto, será também efetuada uma avaliação preliminar da eficácia, nomeadamente através do estudo da evolução da zona tratada por ressonância magnética nuclear.

Estudos anteriores tinham já demonstrado a segurança e eficácia deste produto de terapia celular em modelo animal. Neste contexto, quando aplicado na zona lesada do miocárdio, tornou-se vascularizado e enervado e promoveu a revascularização, a redução do tamanho da zona de enfarte e a melhoria da função cardíaca.

Segundo dados divulgados pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia, mais de 10 mil portugueses morrem de enfarte do miocárdio anualmente. Os que sobrevivem, podem enfrentar sequelas irreversíveis, como perda de músculo cardíaco, que é substituído por tecido não contrátil semelhante ao de uma cicatriz, bem como alterações estruturais que levam progressivamente a insuficiência cardíaca. Embora várias terapias celulares tenham sido testadas ao longo das últimas décadas, não há ainda nenhuma comprovadamente eficaz na regeneração cardíaca.

Referências:
Prat-Vidal C, et al. First-in-human PeriCord cardiac bioimplant: Scalability and GMP manufacturing of an allogeneic engineered tissue graft. EBioMedicine. 2020. 54:102729.

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