Humorista usou “Como é Que o Bicho Mexe” no Instagram para alertar para a pandemia.
Bruno Nogueira teve um convidado especial no seu habitual directo no Instagram, conhecido por “Como é Que o Bicho Mexe”, para alertar as consciências dos portuguesas para a pandemia de covid-19 e para a situação difícil que o Serviço Nacional de Saúde atravessa.
O médico Gustavo Carona que trabalha na Unidade de Cuidados Intensivos de doentes covid-19 do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, explicou ao humorista como são os dias de quem está na linha da frente na luta contra este terrível vírus.
É “emocionalmente muito difícil”, refere o médico intensivista, notando que os profissionais de saúde não são “máquinas” e que também estão a sofrer com “a angústia do doente”, “a angústia da família” que não o pode visitar e com “a solidão que as pessoas estão a passar no hospital”.
Gustavo Carona nota que há pacientes que já “não chegam ao ventilador” e confessa que, muitas vezes, os médicos dizem às pessoas que “vai ficar tudo bem”, mas que não sabem se é “verdade”.
O médico deixa uma “admiração particular pelos enfermeiros e pelos auxiliares de acção médica que estão muito mais próximos dos doentes do que os médicos e que carregam para casa histórias de vida e dores”.
Referindo-se aos telefonemas que são feitas para os familiares dos pacientes, no único contacto que as pessoas podem ter, Gustavo Carona refere que “a angústia que se sente do outro lado do telefone é difícil de descrever em palavras”.
Recado a políticos, instagrammers, futebolistas, actrizes e músicos
As despedidas entre os pacientes que estão a morrer e a família é feita por videochamadas na maioria dos casos de infectados com covid-19, para reduzir ao máximo os riscos de contágio, mas Gustavo Carona nota que no hospital onde trabalha se abre “uma excepção para as visitas” em “pacientes em fim de vida”.
O médico aproveita ainda para deixar um puxão de orelhas aos candidatos eleitorais à Presidência da República. “Só houve um político que disse que não fazia mais campanha eleitoral, que foi o Tino de Rans”, destaca Gustavo Carona, considerando que “a democracia é mais importante do que tudo”, mas que “poderia ser feita de outra forma”.
Este profissional deixa ainda um recado aos “políticos, opinion makers que têm visibilidade, futebolistas, actrizes, músicos” para a sua responsabilidade no alertar de mentalidades, sobretudo dos mais jovens.
“Ainda não se criou uma música que chegue aos adolescentes”, diz, a título de exemplo, considerando que são necessárias acções “para conseguir entrar no coração das pessoas”.
De resto, Gustavo Carona alerta que este “é um jogo de roleta russa”, onde a probabilidade de morrer é “muito maior”. Por isso, recomenda que todos os cuidados são poucos.
“Já não é tempo para os instagrammers venderem óculos de sol e roupa da moda”, diz ainda, recomendando que deviam usar o seu papel de visibilidade social para ajudar a “melhorar isto”.
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